os primeiros 10 dias de 2020

Olá a todos os que estão a ler estas palavras,
Antes de avançar, espero que todos tenham tido umas ótimas festas e entrado em 2020 de forma positiva. Desejo que este novo ano (bem como a nova década) vos surpreenda de forma fantástica.

Hoje é dia 11. Quando comecei a escrever o conteúdo desta postagem diariamente nos rascunhos, não planeava publicá-lo. Era só para ter um registo pessoal dos meus dias, e talvez depois copiar para o papel no género de um diário. Mas o tempo foi passando e agora tenho preguiça... Porque não? Assim também aproveito e quebro um pouquinho a infeliz inactividade do blogue.

Confesso que estes dias não têm sido muito agradáveis. De um modo geral, estou assim há muito tempo. Às vezes há um dia ou outro melhor, contudo definitivamente não acho que sejam a maioria, e o peso que cada momento mau tem em mim é muito superior ao de um dia bom. As festividades, em especial o Natal, não foram sentidas como de costume. Na verdade, nada está como de costume. Sinto que não sou eu própria, sinto que não sou ninguém. Sinto-me vazia, inútil, desnecessária, ... por aí em diante. Não queria maçar-vos com esta negatividade toda, mas agora comecei a escrever e a escrever... Não sei o que esperava, talvez um milagre. "Magia natalícia", "Ano novo vida nova"... Pois... Não aconteceu. E quanto mais o tempo avança mais receio eu tenho do que virá a seguir. A década passada ficou marcada pela minha adolescência - o seu começo, e também o seu fim (custou-me imenso escrever isto). A próxima, é incrivelmente assustadora. Sei que todas são, e cada uma mais assustadora que a outra. Ainda assim, é incrivelmente assustadora. Não me sinto preparada. Nunca senti. Já nem para a adolescência me sentia preparada. Quando era uma adolescente sentia-me criança, e agora que estou a tornar-me adulta ainda estou a dar passos de adolescente. Talvez eu só esteja com um atraso relativamente a todos os outros humanos... Sinto que não vivi tudo. Mas sinto que agora também já não poderei viver o que quero viver. Não sei onde pretendo chegar com esta reflexão. Não sei quem sou, não sei o que quero, não sei de onde venho nem para onde vou. Estou perdida. Como sempre estive. Algumas pessoas dizem que mudei, para pior. Eu também acho. Já nem me reconheço, se é que alguma vez me reconheci.

Acho um pouco ingrato "pintar um dia" com apenas uma cor. Para mim, os dias tem imensas cores. Só porque um defini um dia como "melhor", não quer dizer que não tenha tido partes más. Então é isso.


1 laranja

Passagem de ano. Voltei para casa na carrinha, os pais foram buscar-me e pude estar com a mãe antes de ela ir embora. Foi a primeira vez que não estive com a minha família na passagem de ano. Honestamente, para mim foi muito bom poder estar com amigos... Estava a precisar. Foi uma experiência muito diferente e que me proporcionou ótimos momentos.

2 verde

Consegui estudar um pouco anatomia. Fiz o exame do ano passado. Demorou mais tempo do que o esperado, mas fiquei orgulhosa do feito.

3 azul escuro

Chorei muito. Foi difícil sair da cama. Vi alguns filmes. Chorei com os filmes, independentemente de serem filmes felizes, tristes, tragédias, comédia, romances, ... Sozinha no sofá enrolada numas mantas. A chorar com tudo. Não consegui fazer nada produtivo.

4 azul escuro

Novamente, chorei muito. Não consegui sair da cama a maior parte do dia. Não foi um dia nada bom. Tal como ontem, sinto-me péssima comigo própria. Mesmo. Sinceramente, o meu estado assusta-me.

5 amarelo

Foi o dia do crisma do meu irmão. Eu fui a madrinha dele. A avó, a prima e as suas filhas vieram. Fomos almoçar fora, só faltou a mãe connosco. Foi uma boa oportunidade para quebrar o ciclo de dias maus. Fiquei muito feliz. Espero que tenha força suficiente para os dias que se seguem.

6 azul escuro

Voltamos ao mesmo. Não consegui estudar. Chorei durante a maior parte do dia. Desta vez até tive pensamentos dos quais não me orgulho... Eu acho que ainda quero viver, só não sei o que quero realmente da vida. Tudo parece errado. Viver parece errado... Não sei se o meu pai percebeu que eu estive a chorar, mas era óbvio pela minha cara de tomate. Justamente depois de ter estes pensamentos muito maus escondida na minha cama, ele apareceu e abraçou-me... O que me fez chorar mais de seguida, sozinha no quarto. Amanhã tenho um exame... Então vim para Lisboa...

7 roxo
Foi o primeiro exame, anatomia. Não foi tão mau como esperava... No entanto não sei se foi suficiente para passar. Para desanuviar passeei um bocado por Lisboa antes de voltar para casa. Comi no centro comercial. O próximo exame é daqui a poucos dias, espero conseguir estudar o mais rápido possível. Sinto-me a ser puxada para o vazio.

8 azul escuro
Percebi que é mais difícil do que julguei. Só a ideia de começar a estudar me apavora. Sinto-me horrível. Fiquei mesmo mal. Tentei telefonar para uma série de contactos de apoio... As linhas de prevenção. Procurei pelas nacionais. Mas ninguém atendeu, o que me deixou ainda mais desesperada, porque não foi nada fácil ter coragem de telefonar. Ao imaginar pessoas que poderiam numa situação realmente crítica onde aqueles números telefónicos eram a sua única e última esperança de ajuda, fiquei pior. Porque a resposta que teriam, tal como eu, seria nenhuma. E eu tentei uns 10 números diferentes, para diferentes tipos de possíveis ajuda. Fiquei extremamente decepcionada. E continuo perdida.

9 laranja
Decidi relaxar um bocado, apesar de me sentir um tanto culpada porque eu sei que tenho de estudar o quanto antes. Passei o dia todo a ver filmes e séries que passavam aleatoriamente na TV. Pelo menos, assim distraio-me das negatividades e foco-me nas histórias fictícias que até são interessantes... Também cozinhei o jantar e arrumei a louça da cozinha, que estava um pandemónio (tal como o resto da casa).

10 roxo e rosa
 Acordei determinada a estudar, mas acabei por me esquivar e, novamente, nem sequer comecei. Acho que não consigo dar aquele passo principal onde deixamos o pensamento e partimos para a ação. Custa-me imenso porque tenho medo do que vem a seguir. E o que vem a seguir aterroriza-me pelo facto de achar que não vou conseguir lidar com tudo. Se o falhanço está garantido, para que é que vou tentar? O problema é que, ainda que o falhanço não esteja garantido, não me consigo mover, e as minhas atitudes farão o falhanço acontecer quer eu queira quer não. Mas talvez o meu subconsciente considere essa opção melhor do que a derradeira desilusão... Uma vez que "desperdicei" o dia, convenci-me de que iria estudar a noite toda... Como é óbvio, isso não aconteceu e adormeci antes mesmo de tentar. Por outro lado, encontrei umas caixas de maquilhagem infantil que me ofereceram quando era criança, e pensei "porque não?". Experimentei pintar-me segundo os meus instintos e foi muito divertido. Devo realçar que não tenho experiência nenhuma com estes materiais e que tudo o que sei provém dos tempos em que jogava stardoll. Na minha opinião, fiquei com uns olhinhos e blush cor de rosa bem fofinhos. Foi o melhor momento do dia.